CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 29 de outubro de 2024
29 de outubro entre transições, resgates, toques sem contato e lamentáveis abordagens fatais.
As Manchetes do dia 29 de outubro de 2024
Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
Ah, o teatro do poder, sempre tão bem encenado e com atores que, por vezes, parecem saídos de uma tragicomédia shakespeariana! Em Aracaju, o prefeito Edvaldo Nogueira decide montar sua “comissão de transição” para passar o cetro e a coroa à prefeita eleita Emília Corrêa. Um ritual quase medieval, em que se passa o bastão enquanto a plateia, já cansada, espera ansiosa para ver se dessa vez a encenação será diferente ou se o espetáculo seguirá o roteiro repetitivo das promessas.
Enquanto a política dança nos bastidores, um herói improvável, de quatro patas e com uma lealdade que muitos humanos não têm, foi resgatado de um bueiro após sete dias no purgatório das margens da BR-235. Sim, o cabo Adenilson Santos, sem capa, mas com coragem, entrou para salvar o cachorro preso. E assim, o humilde cão se tornou o símbolo da resistência, um sobrevivente que nos recorda que, em meio ao abandono e à sujeira, ainda há quem se preocupe com os vulneráveis. Se ao menos houvesse um cabo para resgatar o país de seus próprios bueiros…
Falando em saúde, Aracaju recebeu 1.500 doses da vacina contra a nova cepa da Covid-19, e assim seguimos na dança das vacinas. Ah, a vacina, essa heroína invisível, que tanto alívio trouxe, mas que também nos lembra como a proteção parece sempre limitada. Mais 1.500 doses. É o que se tem, o que se pode oferecer. E os que não tomaram a vacina ainda, aguardando o toque milagroso, ficam nas entrelinhas da prioridade, como que suspensos num limbo viral.
E se no Brasil as coisas nem sempre encostam, pelo menos o Banco Central promete que, a partir da próxima semana, o PIX por aproximação será realidade. Encostar o celular, passar para frente, sem toque, sem contato, uma transação quase espiritual. Mas é interessante que em um país onde a proximidade e o calor humano são tão valorizados, agora, pagaremos contas sem sequer tocar no outro. Um símbolo talvez dos novos tempos: estamos todos conectados, mas, ironicamente, cada vez mais distantes.
Em uma noite triste e trágica, Ithalo dos Santos, jovem trabalhador e ansioso, foi levado em uma abordagem policial. No encontro com a mão forte do Estado, a vida se esvaiu, como um sopro interrompido. Enquanto alguns vivem para contar suas histórias, outros têm suas narrativas bruscamente silenciadas. E assim, mais um nome se perde nas estatísticas, enquanto as autoridades prometem investigar. Ah, investigar… como se a verdade, fosse realmente acolhida e não apenas arquivada.
E que dizer da Danone do Brasil, que, numa reviravolta digna de novela mexicana, disse à Europa que não quer mais soja brasileira e depois recuou como quem pisa em solo movediço. Sustentabilidade é o lema. Mas quando o discurso ecoa lá fora, vira ameaça de embargo. A soja, coitada, virou protagonista de uma trama verde-amarela, pendendo entre a ética e a economia.
O Ibama, por sua vez, diz “não” à Petrobras na exploração do petróleo na Foz do Amazonas. Uma negação quase poética, de quem ainda tenta proteger o que resta do verde e do azul em meio ao mar de interesses. “Mais informações”, pedem os órgãos, como se um dossiê pudesse explicar o dano ao ecossistema. Ah, Amazônia, tão vasta e tão vulnerável, ainda disputada entre a ganância e a necessidade de preservação.
E enquanto a Mega-Sena acumula milhões, o sonho de riqueza se renova. Um prêmio de R$ 105 milhões para quem acertar o improvável. E quantos não jogam? Quantos não tentam, como se, de alguma forma, a fortuna pudesse ser uma saída mágica para a precariedade? Mas o grande prêmio vai além dos números; é, afinal, o sonho de mudar de vida sem precisar encarar o que está errado.
Do outro lado do mundo, Kamala Harris, em Washington, pinta Donald Trump com as cores do caos e da divisão, prometendo ser a luz de todos os americanos. De um lado, o som da promessa; de outro, o eco do passado sombrio que ainda assombra. A América se divide, mas o teatro político segue firme, com seus protagonistas a postos, esperando os aplausos – ou os apupos.
E para coroar o dia, Putin decide brincar de guerra novamente, com exercícios nucleares que mais parecem uma dança macabra. A Rússia ensaia sua força, mostrando ao mundo que, mesmo sem a intenção declarada, está sempre pronta para o inevitável. É uma lembrança incômoda de que, no final das contas, todos vivemos sob uma nuvem que, esperamos, jamais chova.
Ah, 29 de outubro, que dia! Entre transições, resgates, toques sem contato e abordagens fatais, seguimos navegando no mar de contradições chamado Brasil.