CRÔNICA

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 28 de outubro de 2024

As páginas de notícias do dia 28 de outubro de 2024 dia do servidor público.

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 28 de outubro de 2024
Publicado em 29/10/2024 às 13:22

As notícias do dia 28 de outubro de 2024


Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


E mais uma vez, no teatro das manchetes, os atores trocam de figurino, mas o enredo? Ah, esse parece aquele velho e batido script. O Brasil, ao que parece, decidiu que é hora de privatizar até os ares que respiramos, e, com uma pontualidade de quem agenda almoço de domingo, a empresa que vai tomar a frente dos serviços da Deso já anuncia mil vagas para o banco de talentos. É um desfile de promessas e contratos, onde os desavisados enxergam esperança e os espertos preveem, nas entrelinhas, o jogo da dança das cadeiras. As atividades começam “nos próximos meses” — um tempo tão exato quanto a promessa de chuva em pleno sertão. E enquanto a folha de contratações vai se estendendo até 2025, o povo assiste, de camarote, a espera de que o copo d’água realmente valha as entradas e saídas de cena.

Em outro canto do palco, as cortinas se abrem para um ex-candidato a vereador, envolvido num enredo trágico e absurdo. O indiciamento pelo atropelamento de um militante durante uma carreata de eleição parece coisa de roteiro de filme de ação mal revisado. A política, que deveria ser um espaço de ideias e propostas, virou um grande ringue, onde os carros não só ocupam as ruas, mas também a lógica. Já se foi o tempo em que carreata era festa. Agora, o que se carrega é mais ressentimento que bandeiras, mais raiva que slogans. O que antes era disputa virou atropelo. Literal e metaforicamente.

E se no campo das urnas a violência tomou conta, o desinteresse deu um show à parte. Em Aracaju, mais de cem mil eleitores resolveram dar as costas para as cabines de votação. É como se o cidadão, cético diante do desfile de candidatos, decidisse fazer o que sempre quis: se tornar fantasma de uma eleição. E eles flutuaram para longe das urnas, como quem assiste ao desfile de promessas de longe, sem querer se comprometer com esse enredo em loop infinito.

Ah, e o PIX… Esse agora resolveu imitar o rádio-relógio antigo, que repete o mesmo som na mesma hora, todos os dias. O PIX Agendado Recorrente surge com ares de novidade, uma espécie de “auto-pagamento assistido”, uma maré automática, que, sem pedir licença, vem e vai. As contas? Estão sempre a postos, aguardando seu momento no ciclo da cobrança. O brasileiro agora, além de lembrar dos boletos, terá de lembrar dos boletos automáticos. Só espero que a memória digital não falhe, e a carteira, essa pobre coitada, suporte o peso da repetição.

Mas o golpe mais salgado vem de outra tarifa: R$ 24,9 milhões que saem do bolso do consumidor. A ANEEL, com a graça de quem lança brasa em barril de pólvora, anunciou uma redução de bandeira. Agora, amarela. Mais leve? Sim, mas ainda assim uma cobrança que se alimenta do suor do povo. E lá vai o consumidor brasileiro, carregando mais um fardo em sua via-crúcis de contas. Numa terra onde o sol castiga, a luz deveria ser direito básico, mas acabou virando o troféu da batalha financeira.

E, cruzando fronteiras, o teatro das chamas se acendeu nos Estados Unidos, onde urnas foram incendiadas. O voto, esse ato sagrado de democracia, foi engolido pelo fogo, e, junto a ele, a esperança de quem se preocupa com a escolha. Como se as brasas tentassem apagar o passado, o FBI tenta desvendar os mistérios desse incêndio de urnas. Mas convenhamos: no palco do poder, quem é que ainda confia que o fogo é purificador?

Em meio a tantas labaredas, das chamas à eletricidade, fica a dúvida: onde será que a esperança ainda mora? Nas promessas de emprego? Nos votos que sobram? Nos boletos que chegam? Ou, quem sabe, em algum canto do mundo, onde a água ainda jorra limpa e pura, sem o peso de um contrato assinado?