CRÔNICA

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 13 de outubro de 2024

Um domingo de notícias tristes.

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 13 de outubro de 2024
Publicado em 14/10/2024 às 0:03


Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


Outubro, o mês que deveria ser das flores, trouxe uma tempestade de tragédias e infortúnios, como se o calendário tivesse trocado suas promessas de primavera por um pacto com o caos. O dia 13, que na superstição já carrega seu fardo de azar, hoje veio com o peso de mil tonéis de angústia.

A primeira chama acendeu na madrugada, lá em Aracaju, no Bairro Olaria. Não foi o fogo de uma vela de aniversário, mas de um amor que se apagou de maneira brutal. Um homem, que um dia prometeu amor eterno, virou carrasco da própria história, ceifando a vida de sua companheira e, logo depois, a sua própria. Como se o enredo macabro já não fosse o bastante, o amanhecer da Serra da Miaba trouxe não o brilho do sol, mas o clarão sinistro de um incêndio que ninguém sabe como começou. Talvez a natureza, exausta da indiferença, decidiu acender sua própria fúria.

Enquanto isso, em Santa Rosa de Lima, a festa virou palco de tragédia. O amor esfaqueado em plena luz do dia, à vista de todos, como se fosse mais uma atração do evento. Um policial, herói por profissão, mas humano por natureza, tentou impedir o pior e acabou também vítima foi ferido gravemente. No fim, a dança da morte foi a única que restou no arrastão o homem e a mulher morreram.

Não muito longe dali, na BR-101 no trevo da cidade de Japaratuba, o asfalto cruel não poupou nem uma idosa, atropelada, dilacerada cruelmente e levada pela pressa de quem se esquece que a estrada também pertence aos mais frágeis. A cada batida do relógio, a sensação é que o mundo perde mais do que ganha, como uma corrida desenfreada rumo ao nada.

Em São Paulo, o apagão era literal e figurado. 760 mil imóveis sem luz, um mar de escuridão tanto no concreto quanto na alma. A Enel, que deveria ser o farol, não trouxe nem uma vela para os desesperados. A cidade parou, e com ela, o tempo de quem esperava a energia voltar para continuar a vida.

E como se o dia não estivesse sombrio o bastante, Washington Olivetto, o mestre das palavras que moldou a publicidade brasileira, partiu também. Sua criatividade era como uma lâmpada sempre acesa, mas, assim como as luzes de São Paulo, foi apagada por uma pneumonia traiçoeira.

Enquanto no Brasil as lâmpadas se apagavam, na Califórnia, um homem armado se aproximava de um comício de Trump, como se a política fosse apenas um jogo de tiro ao alvo. Mas, felizmente, a bala dessa vez ficou na arma. Do outro lado do mundo, o norte de Israel explodia em fúria, drones do Hezbollah levando dor e morte a quem já vive em um campo de batalha contínuo.

O domingo não foi de descanso, foi de luto. O mundo, cada vez mais, parece um navio à deriva, com uma tripulação que esqueceu como remar. Vamos todos afundar se não reaprendermos a olhar para o outro, a entender que a chama que queima aqui é reflexo da indiferença acesa lá. Que as facadas desferidas em Santa Rosa de Lima ecoam na escuridão de São Paulo e nas explosões do norte de Israel. Enquanto apagamos as luzes da humanidade, o caos acende suas chamas. E a primavera, coitada, segue escondida, sem coragem de florescer.