CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do sábado, 26 de outubro de 2024
Dia 26 de outubro de 2024 entre margens de erro, zonas de conflito e nossa própria busca por paz, o sábado se encerra. Que domingo nos traga algo menos amargo e mais doce, como aquela esperança que insistimos em carregar.
26 de outubro de 2024 em Entrelinhas
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Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
Sábado é aquele dia meio desenrolado da semana, que ora corre atrás dos boletos, ora escapa entre um café e uma fofoca. Mas o mundo, ah, esse não descansa. Ele desfila suas manchetes como modelos em passarela, cada qual mais exuberante e dramática que a anterior, enquanto nós, expectadores, assistimos sem saber se aplaudimos ou viramos de lado.
Aracaju e seus 400 mil eleitores
Quatrocentos mil cidadãos, cada um com seu palpite sobre o futuro, suas simpatias e antipatias, mais embaralhados que fichas de baralho numa mesa de truco. Entre Emília Corrêa e Luiz Roberto, o jogo parece decidido, mas, como todo truque bem feito, sempre resta aquela cartada final – o famoso “margem de erro de três pontos para mais ou para menos”. Emília, com seus 62%, parece aclamada pela plateia, enquanto Luiz, com 38%, dança a coreografia de quem pode ganhar um pouco mais de brilho. É o teatro da democracia: candidatos em palcos, eleitores nas coxias, e nós, por trás das cortinas, aplaudindo a esperança, mesmo que entre suspiros.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, Israel e Irã trocam farpas e, mais que isso, trocam bombas. O Itamaraty lança um comunicado cheio de “preocupação” e diplomacia, mas, convenhamos, diplomacia em tempos de pólvora é como tentar apagar fogo com um copo d’água. Cada ataque, cada promessa de retaliação é um capítulo de uma tragédia sem fim, onde o elenco se repete e o desfecho parece escrito em pedra. É difícil não sentir o peso dessas notícias que, para nós, brasileiros, parecem tão distantes, mas ecoam na alma. Afinal, se o Oriente Médio é um barril de pólvora, o Brasil é o observador distante que torce para que a faísca não voe para cá.
O Tribunal Superior Eleitoral, por sua vez, verifica sistemas e prepara o terreno para o segundo turno. A autenticidade e integridade dos sistemas são colocadas à prova como que para convencer o público de que, sim, nosso teatro eleitoral está bem iluminado, sem truques de bastidores. Em tempos de desconfiança, a transparência é a estrela do espetáculo. E o TSE está lá, fazendo as vezes de diretor sério, limpando o palco e ajeitando os holofotes para que cada voto brilhe como deve.
E aí temos o Rio de Janeiro, o palco mais agitado do Brasil, onde o governo de Lula discute GLO para conter a violência. Uma cidade em que até os ônibus parecem personagens de filme de ação, ora sequestrados, ora queimados, enquanto o povo assiste ao show de horrores. Uma GLO em pleno G20? É quase como convidar os líderes mundiais para um espetáculo e, nos bastidores, colocar a polícia de prontidão, como quem se preocupa com o “bom comportamento” da cidade. O Rio, tão lindo e tão sofrido, mais parece uma diva esquecida, tentando relembrar os tempos de glamour enquanto luta para manter-se de pé.
Mas se o Rio é uma ópera, o Sudão parece um drama sem aplausos. Com mais de 120 mortos em um ataque paramilitar, o Estado de El Gezira é um lembrete amargo da fragilidade humana. Os moradores, desalojados e assustados, vivem um inferno que foge às manchetes diárias, escondido nas linhas que a mídia pouco explora. E aqui estamos, tão longe de El Gezira, mas unidos em uma silenciosa prece para que, um dia, a violência dê espaço para a paz.
E assim seguimos, entre urnas e bombardeios, eleições e operações militares, presos num cenário mundial que desafia a lógica. E se a vida é esse espetáculo complexo, onde heróis e vilões trocam de lugar, onde o drama é misturado ao riso e o terror à esperança, só nos resta continuar assistindo, torcendo, e, quem sabe, aplaudindo as pequenas vitórias que ainda nos permitem sonhar.