CRÔNICA

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 25 de setembro de 2024

25 DE SETEMBRO DE 2024 UM Tsunami de notícias

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 25 de setembro de 2024
Publicado em 26/09/2024 às 12:53

Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


Era uma vez, num reino distante chamado Realidade, onde os contos de fada se misturavam com os dramas humanos e os castelos de areia desmoronavam em tempestades de desilusão. Ali, no cenário de um teatro trágico-cômico, o palco se abriu com um vendedor de sonhos desbotados, em Aracaju. Ele, um ilusionista moderno, vendia passagens para destinos que só existiam nos mapas do imaginário, enquanto embolsava as economias de quem, sedento de férias e de fuga, acreditava que poderia escapar da dura rotina embarcando em aviões que nunca decolariam. O prejuízo? Cem mil reais, mas o que pesa mais é o gosto amargo da traição, o cair da ficha que a mágica era, na verdade, um golpe sujo.

Enquanto isso, o Ministério Público, encarnando o papel de um terapeuta coletivo, organizava um seminário sobre bullying e cyberbullying. Puxou a cortina para discutir as feridas invisíveis que cicatrizam em lugares que a medicina convencional não alcança. Porque, afinal, os socos e pontapés da era digital não deixam roxos na pele, mas cravam cicatrizes na alma. Falou-se de empatia, respeito e de um mundo que, às vezes, se assemelha a uma floresta de espelhos quebrados, refletindo versões distorcidas de nós mesmos.

E por falar em reflexos distorcidos, no STF, o enredo sobre a Terra Nhanderu Marangatu finalmente teve um ponto e vírgula. Um acordo foi costurado com a delicadeza de uma renda de bilro. R$ 146 milhões em indenizações para que os fazendeiros, como personagens exilados de uma história mal contada, deixem o palco das terras indígenas. Quinze dias para desocupar um espaço que, desde sempre, pertenceu a quem ali tem raízes mais profundas que os alicerces dos latifúndios. Mas será que esse é o final feliz que esperávamos? Ou apenas o ato seguinte de uma peça que se repete há séculos, trocando apenas os atores?

No Líbano, as bombas voltaram a assinar o roteiro sangrento de um espetáculo que já perdeu a graça há muito tempo. No meio do caos, um adolescente brasileiro e seu pai se tornaram figurantes involuntários de um bombardeio que, com o mesmo ímpeto com que arranca paredes, arranca vidas. O Itamaraty confirmou a tragédia com a frieza de um boletim de ocorrência, enquanto a família em Foz do Iguaçu chora o vazio que nenhuma diplomacia preenche. Ali, o valor das vidas é cotado em lágrimas e desespero, moeda que o Banco Central da Paz parece não querer negociar.

E por falar em números e probabilidades, a +Milionária acumulou. Mais uma vez, o sonho de transformar a sorte em cifras se adiou. Doze milhões e meio de reais esperam, impacientes, por um apostador que, talvez, nem exista. Como aqueles destinos paradisíacos vendidos pelo golpista em Aracaju, a fortuna, aqui, também parece miragem. No entanto, teve alguém que levou um prêmio de R$ 172 mil. Quem sabe, com esse trocado, ele consiga até comprar uma ilusão de viagem de ida sem volta para longe das frustrações cotidianas.

Do outro lado do planeta, o Japão absolveu o homem que passou mais tempo no corredor da morte. Iwao Hakamada, 48 anos encarcerado, quase 60 carregando o peso de uma culpa que, agora, sabemos ser injusta. Ele viveu numa cela de injustiça, onde as barras não eram de ferro, mas de mentiras e provas forjadas. E agora, livre, o que se faz com o tempo perdido? Como se recompõe uma vida que foi esculpida na pedra do erro humano? Nem todos os pedidos de desculpa do mundo devolveriam seus dias, seus anos. A ironia é amarga: um país que preza pela honra e disciplina, às vezes, se perde no labirinto das próprias leis.

Enquanto isso, na ONU, França e EUA tentam ensaiar um cessar-fogo, uma pausa nas trevas de um conflito sem roteiro. Porque, quando a pólvora fala, os argumentos se calam. A ideia é simples: 21 dias de trégua, tempo suficiente para que o Líbano respire antes de afundar de vez. Mas, assim como no teatro, há sempre quem prefira os aplausos estrondosos das bombas às vaias silenciosas da paz.

E assim, o reino distante chamado Realidade segue, com seus personagens ambíguos, suas tragédias e comédias, seu humor ácido e sua ironia involuntária. O que nos resta é a plateia, perplexa, aguardando o próximo ato, sem saber se o que virá é um sorriso ou uma lágrima. Talvez ambos, porque, no fundo, é assim que a vida segue: uma tragicomédia de metáforas e emoções desencontradas.