CRÔNICA
Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 23 de novembro de 2024
Manchetes do 23º dia novembro entre buracos e sonhos, entre bombas e promessas, entre passado e futuro.
As notícias do dia 23 de novembro de 2024
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Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
Na Rodovia dos Náufragos, o tempo escorre como areia numa ampulheta, enquanto os vendedores, com suas barracas improvisadas, tentam adiar o apito final de um jogo que nunca parece justo. “Mais tempo”, eles pedem, mas quem os ouve? Afinal, na sinfonia das máquinas, o ruído das necessidades humanas é sempre desafinado. A rodovia se transforma num palco de drama, onde a sobrevivência é protagonista e a burocracia o vilão mascarado.
Enquanto isso, nos recantos de Aracaju, as páginas da história negra ganham vida. Sergipanos e turistas andam por ruas que são verdadeiros livros abertos, onde cada esquina guarda uma memória, e cada tijolo parece cantar um verso de resistência. É uma poesia que se lê com os pés, mas que deveria ecoar na alma de quem passa. A cultura negra, no entanto, não deveria ser só contemplada – deveria ser celebrada com políticas públicas, não apenas com câmeras fotográficas.
Já em Pirambu, o buraco na rodovia SE-100 no povoado Aningas virou uma espécie de “portal do descaso”. Os moradores protestam, mas é como gritar num deserto: o eco volta, mas a solução não vem. O buraco, que já deveria ser tapado com asfalto, acabou sendo preenchido com indignação. É como se as estradas de Sergipe fossem tatuadas com os rastros do abandono, um mapa que leva sempre à mesma conclusão: a falta de prioridade.
No campo dos sonhos, a Mega-Sena acumula e promete R$ 55 milhões. O país, sempre esperançoso, lota as casas lotéricas como quem joga sua sorte num buraco negro. Mas, para muitos, ganhar a bolada é tão provável quanto tapar todos os buracos das estradas de Sergipe numa única obra. A sorte, afinal, é uma senhora caprichosa, que ri da desgraça alheia enquanto entrega o prêmio a poucos escolhidos.
E por falar em escolhas, Moraes decidiu liberar Anderson Torres para cuidar da mãe doente. É uma decisão carregada de humanidade, mas que também provoca reflexões. Torres, que já foi uma peça-chave no tabuleiro político, agora tenta resgatar sua humanidade enquanto cuida de uma mãe fragilizada. Em tempos de intransigência, a compaixão é uma flor rara – e necessária. Resta saber se ela será regada ou usada apenas como um enfeite temporário.
No Uruguai, a democracia dança um tango de incertezas. De um lado, Yamandú Orsi, discípulo de Mujica, promete um país com perfume de revolução. Do outro, Álvaro Delgado, aliado de Lacalle Pou, propõe manter o compasso conservador. É uma disputa acirrada, onde o futuro de quase 3 milhões de eleitores pende como um pêndulo, balançando entre o sonho e a realidade.
Mas, enquanto no Uruguai a política é uma dança, no Líbano é uma bomba. Beirute, a cidade das cicatrizes, sangra mais uma vez. Quinze vidas foram apagadas num bombardeio que não poupou o coração da cidade. O conflito parece um jogo de xadrez macabro, onde as peças principais nunca estão no tabuleiro. Para os inocentes, resta apenas a poeira e o luto.
Nos Estados Unidos, Donald Trump recebe o secretário-geral da OTAN. A reunião é uma dessas ironias geopolíticas que fazem o mundo parecer uma novela mal roteirizada. Trump, sempre tão hostil à OTAN no passado, agora discute os “desafios globais”. É como se um incendiário se tornasse bombeiro de um dia para o outro, com direito a tapinhas nas costas e flashes das câmeras.
E assim segue o mundo: entre buracos e sonhos, entre bombas e promessas, entre passado e futuro. No final, somos todos passageiros de uma rodovia metafórica, onde os buracos não são apenas de asfalto, mas de humanidade. Talvez, quando aprenderemos a preencher esses vazios, possamos finalmente construir uma estrada que nos leve a um destino mais justo. Por enquanto, seguimos, tropeçando nas ironias do presente.