CRÔNICA

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 22 de agosto de 2024

"Folclore Moderno: Encantamentos, Tragédias e Ironias no 22 de Agosto de 2024"

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 22 de agosto de 2024
Publicado em 23/08/2024 às 6:04

“Lendas, Heróis e Realidades: O Folclore Brasileiro Encontra as Notícias do Dia 22 de Agosto de 2024”

Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE

Era 22 de agosto, Dia do Folclore Brasileiro, e os personagens encantados das histórias populares resolveram acordar. Saci, o mestre dos ventos, saiu do seu redemoinho e foi dar uma volta por Sergipe, curioso sobre como estava o verde das matas. Mas, ao chegar lá, ele quase perdeu o cachimbo – não de medo, mas de tristeza. As florestas, antes refúgio de seus mistérios, estavam reduzidas a memórias esmaecidas. Apenas cinco unidades de conservação ainda resistiam, como ilhas em um mar de concreto. O MapBiomas, aquele ser cartográfico que tudo vê, anunciou o diagnóstico: Sergipe era um paciente em estado terminal no quesito vegetação nativa. “Será que vão me transformar em lenda urbana?”, suspirou o Saci, imaginando-se perdido entre prédios e asfalto.

Enquanto o Saci filosofava sobre o futuro, lá no IBGE, as bruxas previam o destino da população sergipana: em 2042, o estado começará a encolher como roupa mal lavada. Já em 2070, a média de idade será 52,4 anos. Um estado de velhos sábios ou de esquecidos anciões? Quem sabe, futuramente, o boto cor-de-rosa aparece não nos rios, mas nas filas de hospitais geriátricos, seduzindo as enfermeiras.

No meio desse cenário de mistério e desencanto, um boitatá moderno apareceu em Nossa Senhora do Socorro. Mas não era fogo-fátuo, não. Era um homem armado em frente a uma escola, assustando até o Curupira. O tal foi preso, mas a pergunta que ficou no ar foi: o que leva alguém a querer transformar um lugar de educação em cena de terror?

Enquanto isso, na Caueira, Itaporanga d’Ajuda, outro personagem das histórias modernas, um criminoso procurado, se escondia como o Negrinho do Pastoreio. Só que o que ele pastoreava era o medo, até ser encontrado pela polícia e preso. Sergipe, terra de encantos e desencantos, parecia viver uma mistura de folclore e reality show de terror.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, na Argentina, o Minotauro econômico corria solto. O país, que já havia enfrentado todos os tipos de labirintos, agora via sua economia encolher 3,9% em junho. Nem o esforço do setor agropecuário parecia capaz de alimentar o monstro, que devorava indústrias e esvaziava a mesa dos argentinos. Javier Milei, com seu cabelo de Medusa, tentava olhar para todos os lados ao mesmo tempo, mas as serpentes do desemprego e da inflação eram mais rápidas.

E no Brasil, 214 cidades pareciam se render à lenda do coronelismo eterno, onde só um candidato à prefeitura se candidatava. O monopólio eleitoral se transformava em uma piada de mau gosto, uma versão moderna do Saci que roubava as pernas das alternativas e as escondia em algum canto obscuro do sistema político.

Enquanto isso, no Supremo Tribunal Federal, os deuses do Olimpo jurídico discutiam se o presidente da República podia brincar de Prometeu, desafiando convenções internacionais sem o aval do Congresso. “Queimar ou não queimar os direitos?”, essa era a questão. Lá fora, os trabalhadores esperavam que seus empregos não fossem acorrentados e lançados ao abismo da demissão sem justa causa.

Enquanto os problemas terrestres se acumulavam, a NASA tinha sua própria lenda para lidar. Dois astronautas, Butch Wilmore e Suni Williams, pareciam presos em uma versão cósmica do “João e Maria”, sem saber quando voltariam à Terra. A cápsula que deveria trazê-los de volta à nossa realidade teimava em se tornar uma nave-fantasma, adiando seu retorno e estendendo a espera como uma história sem fim.

Na Lua, a missão Chandrayaan-3 descobriu os restos de um antigo mar de lava no lado oculto. Quem sabe, o velho lobisomem lunar não estava por lá, vigiando aquele oceano petrificado enquanto esperava o próximo eclipse?

E enquanto a Lua nos revelava segredos do passado, o Talibã no Afeganistão voltava ao passado, proíbindo mulheres de falar em público e de mostrar o rosto. Parecia que a cultura do silêncio e do apagamento feminino era um eco distante de lendas antigas, onde as vozes das mulheres eram sussurradas apenas nos ventos, sem jamais serem ouvidas.

No mundo político, Kamala Harris, em discurso que misturava o sério e o pragmático, tentava unir um povo dividido, uma espécie de Iara moderna, cujo canto buscava seduzir não para o fundo do rio, mas para uma realidade de justiça e igualdade.

E enquanto tudo isso acontecia, lá na Islândia, o vulcão decidiu entrar em erupção pela sexta vez no ano, como se fosse uma festa de São João fora de época, iluminando o céu com suas chamas de destruição e renovação.

No meio de tantas lendas e tragédias, um brasileiro na Espanha, Felipe David Souza, se tornou o herói do dia. Ao salvar uma criança que estava pendurada na sacada, ele mostrou que, no fundo, ainda existem heróis de carne e osso entre nós, capazes de enfrentar qualquer desafio, seja ele um lobisomem armado ou uma realidade que teima em se transformar em folclore.

E assim, o Dia do Folclore se encerra, com personagens antigos e novos se misturando nas tramas do cotidiano, como se a realidade fosse apenas mais uma história para ser contada à beira da fogueira.