CRÔNICA

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 16 de novembro de 2024

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 16 de novembro de 2024
Publicado em 17/11/2024 às 11:29

Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


Era uma tarde abafada em Aracaju, dessas em que o sol decide fritar até os pensamentos mais sombrios. E enquanto o céu alaranjado prometia um fim de dia quente, lá estava o fogo brincando de dança das chamas num colégio do Centro. Curto-circuito? Dizem que sim. O calor, a eletricidade e a palha se desentenderam e resolveram colocar um espetáculo sem ingresso, labaredas altas o suficiente para fazer os passantes no calçadão de Aracaju levantarem o olhar das telas de seus celulares.

Enquanto os bombeiros heróis em vermelho corriam para apagar as chamas, o governador Mitidieri estava ocupado com sua própria fogueira interna, hospitalizado com uma pneumonia. O pulmão resolveu protestar, cansado de tantas idas e vindas entre Brasília e o Rio. É, até os governadores têm direito a um intervalo quando a saúde diz “basta”. Quem sabe, no leito de hospital, ele reflita sobre a própria agenda, ou talvez sobre o que realmente importa para Sergipe.

Mas, enquanto Sergipe cuidava dos seus incêndios – uns de palha, outros pulmonares – lá na distante Brasília, as portas do Congresso Nacional começaram a se fechar. Sim, após explosões e atentados, a segurança resolveu apertar o cerco. Os corredores por onde antes desfilavam interesses escusos agora prometem uma triagem mais rigorosa. Afinal, não dá para deixar qualquer um entrar na festa, mesmo que seja para gritar aos quatro ventos suas ideias de liberdade. Na “Chapelaria”, o chapéu é só para quem tem permissão de usar.

Falando em fechar portas, o Supremo Tribunal Federal estava decidindo o futuro de Robinho, ex-craque que preferiu brilhar nas páginas policiais do que nos gramados. Com 5 a 1 no placar para mantê-lo atrás das grades, o Brasil dá uma rara mostra de que, sim, a justiça pode ser cega, mas às vezes ela enxerga bem de perto o que realmente precisa ser feito. Enquanto Cármen Lúcia bradava que impunidade é incentivo para outros, Gilmar Mendes – sempre ele – olhava para o outro lado. Talvez seus óculos precisem de uma lente mais forte para ver o que o país realmente deseja.

E enquanto o mundo se preocupa com crimes e punições, uma luz de esperança surge na Aliança Global contra a Fome, cujo quartel-general será na Itália, a terra das massas. Irônico, não? Uma nação conhecida por suas fartas mesas de comida agora abriga a sede de uma aliança que pretende encher pratos vazios ao redor do globo. E pensar que, em 2023, mais de 733 milhões de almas foram dormir com o estômago vazio. A fome, essa velha conhecida, continua ganhando o jogo, mas talvez agora, com um time internacional, possamos virar o placar.

Do outro lado do mundo, em Yixing, na China, um jovem estudante resolveu transformar sua frustração em violência, e o resultado foi uma tragédia escolar. O mundo, já acostumado a ver seus jovens perdendo a cabeça, assiste mais uma vez ao espetáculo mórbido de uma juventude que não encontra saídas. O cenário chinês, com suas provas inalcançáveis e expectativas esmagadoras, revelou, mais uma vez, que pressão demais estoura até a panela mais resistente.

E enquanto as notícias de mortes, incêndios e restrições fazem barulho, lá no Peru, dois titãs da política global – Biden e Xi Jinping – se sentaram para mais uma rodada de xadrez diplomático. Dizem que os dois conseguiram melhorar a relação entre seus países, mas, para o cidadão comum, é como ver dois vizinhos que passam a vida trocando farpas tentando dividir a cerca do quintal. Para a posteridade, dizem que os dois deixarão um legado de paz, mas enquanto os fogos de artifício da diplomacia explodem, o mundo ainda tem que lidar com suas próprias explosões internas.

E assim seguimos, nesse sábado de novembro. Entre incêndios e curtos-circuitos, respiramos a poeira de uma semana onde as chamas da injustiça, da violência e da desigualdade insistem em queimar os sonhos de muitos. E enquanto alguns poucos tentam apagar os incêndios, outros preferem acender tochas para guiar o caminho – ou talvez apenas para aquecer suas mãos frias de indiferença.