CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 12 de outubro de 2024: Dia de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças
Crônica: Feriado de Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil , dia das Crianças, Aquífero Guarani secando.
Manchetes do dia 12 de outubro de 2024
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Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
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Neste 12 de outubro, o Brasil celebrou sua padroeira, Nossa Senhora Aparecida, enquanto as crianças corriam de um lado para o outro, ansiosas por seus presentes. Mas, como em toda boa história, o dia não passou sem seus contrastes – entre a devoção de um lado e o caos do outro, entre a fé que move montanhas e a ciência que alerta para um desastre iminente.
Em Sergipe, mais de 100 mil fiéis saíram em romaria, um rio de gente movido pela fé, como se os pés descalços pudessem milagrosamente preencher os reservatórios do Aquífero Guarani, que já está no bico do corvo, quase seco. Entre a oração e a ciência, há uma ponte invisível de incerteza. Enquanto uns pedem chuva dos céus, outros estudam se é possível evitar que o poço fique ainda mais vazio. Afinal, a água do Aquífero não é santa, mas é vital, e nenhum rosário parece conseguir reverter a sua evaporação silenciosa.
E por falar em milagres modernos, enquanto o Padre Aroldo cria um boneco ventríloquo em Teresina para evangelizar as crianças, São Paulo se ajoelha diante de outra divindade: a Enel, que parece decidir quem vive na luz e quem fica às escuras. Com 386 árvores caídas e semáforos fora de operação, a cidade virou um tabuleiro de xadrez mal jogado, com peças espalhadas, e o prefeito Nunes tentando culpar o outro jogador. “Foi a Enel!” grita ele, enquanto a cidade, sem energia, tenta retomar seu ritmo caótico de sempre.
E o sol, ah o sol! Até ele decidiu brincar de artista nesse 12 de outubro, criando céus coloridos com suas tempestades solares. Enquanto uns se maravilhavam com os tons de rosa e laranja no céu, lá em São Cristóvão, uma mulher tentava colorir o seu próprio destino… com um pacote de drogas, dentro de um presídio. Parece que enquanto alguns buscam a redenção, outros se afundam ainda mais nas sombras.
No Líbano uma Libanesa grávida teve que fugir do país em trabalho de parto para ter bebê em segurança no Iraque. Ela, o marido e os dois filhos tiveram que deixar sua casa, em uma aldeia no sul do Líbano, por causa dos bombardeios de Israel. Antes de ir ao país vizinho, ela tentou dar entrada em hospitais em Beirute e Sidon, mas todos estavam lotados e não puderam atendê-la.
Mas voltando às crianças, nesse seu dia especial, fico pensando: o que elas herdariam? De um lado, a devoção dos pais, que fazem peregrinações de fé. De outro, um planeta onde até a água doce está se esvaindo, árvores caem aos montes, e a eletricidade vai embora ao menor sinal de tempestade. Talvez o boneco ventríloquo do padre Aroldo tenha mais a ensinar do que imaginamos: a boca fala, mas são as mãos que mexem as cordas. E quem está com as mãos nas cordas desse teatro chamado vida?
Então, entre a fé e a ciência, entre as preces e os estudos, entre o Dia das Crianças e o Dia da Padroeira, vamos refletindo. Talvez Nossa Senhora não seja apenas a padroeira do Brasil, mas também a padroeira da paciência, porque é preciso muita paciência para esperar um milagre que possa, ao mesmo tempo, encher o Aquífero Guarani, reerguer as árvores de São Paulo, trazer a luz de volta e, quem sabe, dar às crianças um futuro onde a água não seja mais valiosa que a fé.
E assim segue o Brasil, entre a romaria e a roleta russa do tempo. Que Nossa Senhora nos cubra com seu manto e, quem sabe, com um pouco de água também. Amém.
E como diz Roberto Carlos na sua bela canção Nossa Senhora:
“Nossa Senhora me dê a mão
Cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino
Do meu caminho
Cuida de mim”.