CRÔNICA
Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 06 de novembro de 2024
Notícias em meio a obras, estômagos revirados, números sorteados, lutas por dignidade e mudanças de regras, caminhamos.
As notícias do dia 06 de novembro de 2024
Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
Ah, meu caro leitor, como é possível descrever um dia como este? A rodovia SE-100, esse fio cinzento que corta o mapa de Sergipe, virou palco de um vaivém caótico, onde cones laranja se tornaram o novo espetáculo. Como numa dança de carros, o BPRv conduz o trânsito como um maestro numa orquestra desafinada, enquanto os motoristas, como bailarinos improvisados, tentam encontrar o compasso em meio às interrupções. É quase poético, não fosse trágico: o asfalto a desfazer-se enquanto a paciência do cidadão vai derretendo sob o sol escaldante.
E falando em digestão difícil, temos os estudantes da UFS no Sertão, que, ao que parece, receberam no prato algo mais do que simples refeições. Mais de cinquenta jovens, após o almoço, sentiram o estômago revirar-se como quem enfrenta uma tempestade interna. Vomitaram, suaram frio, em um ensaio involuntário do que talvez seja a “experiência completa” da vida universitária. E entre uma ânsia e outra, fica a reflexão: até quando o básico será luxo? Comer com segurança virou uma roleta russa onde o prêmio é não sair carregado para a enfermaria.
Falando em prêmios, a +Milionária está acumulada em 21 milhões. E o sonho da fortuna cresce como uma bolha de sabão prestes a estourar. Cada aposta, cada número, um pedacinho de esperança de que, talvez, o amanhã traga o descanso merecido para quem joga com a sorte. Um país de apostadores e de esperanças multiplicadas por seis, cinco dezenas e dois trevos. Porque, afinal, no Brasil, até para ser milionário é preciso um pouco de mágica.
E por falar em mágica, o Carrefour em Presidente Prudente tentou conjurar uma lógica própria de gestão. Quem diria que assédio moral viraria tema de TAC, um contrato que mais parece um pedido para que a empresa redescubra o que significa dignidade no ambiente de trabalho? E a Justiça do Trabalho, com sua toga pesada, obrigou o Carrefour a interromper essa prática. Mas fica o questionamento: em que país um termo desses deveria ser necessário para lembrar que seres humanos são mais que engrenagens descartáveis?
Enquanto isso, o STF desengaveta um capítulo antigo, voltando a permitir que servidores públicos sejam regidos pela CLT, sem estabilidade. Como é essa a nossa dança: um passo para frente, dois para trás. Fica a reflexão: para onde vamos quando a história decide que é hora de reescrever o passado no presente? A estabilidade escorrega pelos dedos, e o que era sólido se desfaz na poeira das mudanças.
Mas nem tudo é desmanche. O Inpe nos brinda com uma boa nova: o desmatamento caiu, sim, na Amazônia e no Cerrado. Uma vitória para o planeta, um suspiro de alívio para quem acredita que a vida não termina na próxima esquina. E nessa luta entre o verde e o cinza, o Inpe nos recorda que, mesmo em tempos sombrios, há sempre uma fagulha de esperança.
No entanto, o Copom, em sua torre de marfim, decide que a Selic precisa de uma guinada. De 10,75% para 11,25%. Porque, afinal, a incerteza nos EUA reflete no nosso bolso, e o país dança conforme a batuta do mercado internacional. A cada alta, a economia se fecha mais um pouco, e o sonho da casa própria, do negócio próprio, fica mais distante.
E, por último, uma nota que chega a nos arrepiar: o STF confirma o acordo de reparação pelo rompimento da barragem de Mariana. Quase uma década depois, a dor dos atingidos será, enfim, reconhecida com um valor. Mas será que dinheiro cicatriza feridas? Será que, depois de tudo, o peso das indenizações é capaz de devolver a dignidade que desceu com a lama?
Ah, e claro, não poderíamos terminar sem mencionar a surpresa das urnas: Trump volta à Casa Branca. Para muitos, o retorno de um velho conhecido; para outros, uma travessia de incertezas. O mundo observa de olhos arregalados, como quem assiste a uma peça de teatro com final já conhecido, mas que, mesmo assim, nos faz prender a respiração.
Assim segue o dia, caro leitor. Em meio a obras, estômagos revirados, números sorteados, lutas por dignidade e mudanças de regras, caminhamos. E eu aqui, neste canto de Sergipe, me pergunto: até quando seremos personagens dessa crônica meio tragicômica chamada realidade?