CRÔNICA

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 02 de novembro de 2024 – Dia de Finados: Memórias, Movimentos e Metáforas

"Cada notícia é uma flor deixada em um túmulo: um tributo silencioso às memórias, esperanças e lutas que se erguem, mesmo entre as despedidas."

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 02 de novembro de 2024 – Dia de Finados: Memórias, Movimentos e Metáforas
Publicado em 03/11/2024 às 2:34

As notícias do dia 02 de novembro de 2024 – Dia de Finados: Memórias, Movimentos e Metáforas

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Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


No Dia de Finados, enquanto o céu chorava com uma chuva fina e melancólica, as notícias cruzavam nosso caminho como almas errantes, cada uma trazendo um lamento ou um brado. Era um dia em que o tempo parecia parar para recordar aqueles que partiram, mas que vivem em cada esquina da memória. E ali, no calor de Japaratuba, ouvia-se o silêncio que acompanhava o caminhar das homenagens. Um silêncio que, vez ou outra, se rasgava pelo grito das manchetes.

Em meio a tudo isso, a partida de Jorge Maravilha aos 72 anos de idade trouxe um lamento que ecoa como o samba de coco que ele tanto amava. Sua despedida é como a última chama do “barco de fogo”, símbolo de Estância, que brilha intensa e brevemente antes de se apagar no horizonte. É como se a cidade perdesse um acorde e, com ele, uma nota de sua própria melodia. Maravilha era um desses raros encantadores que transformam festa em canção, cultura em arte, e agora, sua voz repousa na eternidade.

Mas a vida, que tem seu jeito caótico de seguir em frente, logo nos empurra para o domingo, onde mais de 69 mil jovens em Sergipe enfrentam o Enem, cada um carregando nas costas o peso do futuro. O sonho, aqui, é essa árvore alta e inatingível, cujos frutos são promessas de um amanhã melhor. Cada questão da prova é uma folha que se desprende, uma escolha entre acertar e tropeçar. E ali, nas salas dos 33 municípios, as mentes fervem com esperança e pressão, enquanto do lado de fora, a vida insiste em mostrar que a sorte e o azar andam sempre de mãos dadas.

Falando em azar, em Japaratuba, o jovem cabo do exército, Peterson, foi derrubado do equilíbrio de sua bicicleta por um motorista embriagado, como se a imprudência fosse essa sombra constante na estrada. Um corte na cabeça, um susto na família, e a cidade que, novamente, suspira aliviada ao saber que ele está bem. Um pequeno consolo em meio a tantos acidentes que terminam em finais menos felizes. É como se o destino o tivesse empurrado, mas logo em seguida o segurado pela mão.

Enquanto isso, o país passa por uma “nova ordem”, onde até o PIX, aquele instantâneo mensageiro das finanças, ganha novos limites. Quem diria que o Brasil, que abraçou o PIX com fervor, agora precisa se adaptar ao aperto nos botões. Novos celulares, novos computadores, e lá está o Banco Central, desconfiado, dizendo: “Vai com calma, confia, mas verifica”. A modernidade está aí, mas, pelo visto, com uma dose de moderação. Porque, afinal, não se pode confiar em qualquer tecnologia recém-saída da caixa, ou será que é o brasileiro que anda trocando muito de celular?

Enquanto aqui no Brasil ajustamos as rédeas no nosso sistema financeiro, na Espanha a natureza fez o contrário: afrouxou as comportas e desaguou sua fúria em Valência. Dez mil homens mobilizados, casas destruídas, e uma cidade inteira à beira do colapso, sem comida, sem luz, sem água. É como se o Mediterrâneo tivesse se cansado de ser espelho do céu e decidido ser o palco do desastre. E lá, no meio da lama e dos carros empilhados, fica a pergunta: até quando as águas vão pedir por respeito, antes de exigirem justiça?

E por falar em justiça, esta é outra que parece estar presa em algum atoleiro quando o assunto são os crimes ambientais no Brasil. A cada 400 casos, apenas um resulta em prisão. É como se a justiça estivesse de olhos vendados, mas segurando a balança com uma mão e o sono com a outra. São milhares de processos, uma fila sem fim, enquanto os rios são envenenados, as florestas arrancadas e a vida encurtada. No fundo, parece que, para os criminosos ambientais, a prisão é mais um mito do que uma realidade.

Mas eis que o Reino Unido surge com uma notícia para lembrar o mundo que mudanças também acontecem. Kemi Badenoch, filha de nigerianos, se tornou a primeira líder negra do Partido Conservador britânico. Um vento de renovação sopra na terra onde tradições resistem com teimosia. É um pequeno passo para a política, um grande passo para a representatividade. Quem sabe um dia, o Brasil aprenda com a Inglaterra que, às vezes, é preciso abrir espaço para novas vozes, novas perspectivas. Afinal, até os conservadores lá fora já entenderam que, para sobreviver, é preciso mudar.

No fim deste dia de memórias, onde vivemos entre despedidas e esperanças, percebo que cada notícia é como uma flor deixada em um túmulo. Elas nos lembram que, mesmo nas despedidas, há algo que permanece. Como Jorge Maravilha, que se foi, mas deixa o samba. Como os jovens do Enem, que trazem o amanhã em suas mãos. Como Peterson, que sobreviveu, como um sinal de que, às vezes, a vida ainda sorri para nós. E assim, com humor, ironia e uma pitada de reflexão, vamos construindo nossa crônica, dia após dia, em meio a flores, sorrisos e lágrimas.