CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do 27 de outubro de 2024
Emília sobe, o azeite é trancado, a seca arde, e Evo grita.
As notícias do 27 de outubro de 2024
Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
Em um domingo de outubro, as manchetes desfilaram pela praça pública como personagens em um teatro de absurdo. Em Aracaju, Emília Corrêa, a nova comandante da cidade, fez história, tornando-se a primeira mulher a ocupar a cadeira de prefeita. Mas, enquanto Emília pisava o solo da vitória, um quarto da população parecia ter preferido o conforto de suas casas à urna. A abstenção, essa ilustre figura que assombra nossas eleições, cresceu como erva daninha em campo seco. Fica a pergunta: será que o cidadão cansou de votar ou cansou de esperar?
Já do outro lado do Atlântico, Trump, com sua língua mais afiada que navalha, resolveu brincar de provocador em um comício. No palco, um comediante sem graça atiçou a fúria dos porto-riquenhos com insultos dignos de uma guerra de quinta categoria. Como um boomerang desajeitado, as palavras voaram, e quem se deu bem foi Kamala, impulsionada por um ato racista que ecoou como um tapa na cara de quem ainda acredita em respeito e dignidade.
Falando em valores preciosos, a prateleira dos supermercados virou quase uma exposição de arte, com azeites sob proteção antifurto. Parece piada, mas o ouro verde, que sempre fez a alegria das saladas e das massas, agora tem mais segurança do que alguns bancos. A seca portuguesa e espanhola nos lembra, amargamente, que até os deuses do olimpo do azeite estão com sede, e o preço sobe como balão de São João em junho.
E enquanto o azeite fica guardado como relíquia, o leite e seus derivados também vão pesando no bolso do consumidor. A seca, companheira fiel das queimadas, transformou pastos em cinzas. Com a expectativa de chuva, alguns rezam para que o leite volte a ser branco e acessível, enquanto outros temem que até a água das nuvens venha com imposto embutido.
No Japão, o Partido Liberal Democrático (PLD) conheceu o gosto amargo da derrota, uma sensação rara desde 2009. Será que até o sol nascente está cansado de ser sempre o mesmo? Parece que os ventos da mudança sopram por lá, empurrando o tradicionalismo para fora da porta. O Japão, com sua serenidade ancestral, assiste ao enredo mudar enquanto nós aqui continuamos aplaudindo o mesmo espetáculo, de olhos vidrados.
E na Bolívia, Evo Morales denuncia uma trama de assassinato. Uma tragédia ou uma peça de teatro político? Fica o mistério no ar, e cada cidadão boliviano escolhe seu papel: o de espectador cético ou o de ator indignado. Evo nos convida a uma reflexão: quando a realidade se mistura à ficção, quem paga o ingresso dessa peça é o povo.
Para fechar o ato, um sopro de esperança veio do Egito, onde o presidente propôs uma trégua em Gaza em troca da libertação de quatro reféns. Um alívio breve ou um prenúncio de paz? Ninguém sabe, mas por um instante, o silêncio das armas é mais poderoso que qualquer discurso.
E assim o mundo continua girando, como um carrossel desgovernado. Emília sobe, o azeite é trancado, a seca arde, e Evo grita. A nós, resta a ironia de perceber que, por mais que mudem as manchetes, a trama é sempre a mesma: um jogo de poder onde a humanidade, sem perceber, dança conforme a música desafinada da história.