CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber Santana Ferreira sobre as notícias do dia 14 de setembro de 2024
Cobras que caem, jovens que sonham, um ar que sufoca e líderes que ameaçam, vamos refletir
Notícias do dia 14 de setembro de 2024
__________________________________________________________________________________________
Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
__________________________________________________________________________________________________________
Era um sábado como qualquer outro, ou quase. O sol mal tinha esquentado o asfalto quando a primeira notícia serpenteou pelas redes: uma jibóia, criatura tranquila, mas que carrega a má fama das cobras bíblicas, decidiu praticar paraquedas e despencou do oitavo andar de um prédio em Aracaju. Poderíamos dizer que o condomínio virou cenário de um documentário da National Geographic. Mas, ao contrário das lições de coexistência com a natureza, o que vimos foi um “cobrafóbico” pânico generalizado. Ah, a natureza, sempre tão próxima, mas nunca verdadeiramente compreendida. E lá foi o dono da cobra, perdendo a guarda do animal, como se um réptil fosse criança traquina que decidiu se jogar de uma árvore.
Enquanto isso, em outro lado da cidade, cerca de 14 mil jovens encaravam um simulacro do futuro. Sim, o Enem, essa grande cobra enrolada que cada estudante precisa desenrolar. A pressão é imensa. Cada questão é uma mordida sutil no sonho de um diploma, de um emprego que pague as contas, de uma vida um pouco mais leve. Eles estão lá, com seus lápis e cadernos, como guerreiros modernos tentando sobreviver na selva de pedras da meritocracia. E enquanto nossos jovens lutam contra a serpente da desigualdade, a poluição, essa vilã invisível, vai contaminando os ares sem que metade dos estados brasileiros sequer se preocupe em medir seu impacto.
Aqui estamos, respirando fumaça e incertezas. E pensar que há quem diga que o ar do Brasil é “puro”, mas sem medir, quem garante? Já que o governo sancionou uma lei para medir a qualidade do ar, mas, como em tantos outros casos, tudo ficou na gaveta. A fumaça dos incêndios continua a dançar como uma serpente venenosa no céu, abraçando tudo e todos, sem distinção. Uma dança letal, daquelas que nos faz pensar: até quando vamos fingir que não está acontecendo?
E enquanto o país sofre, na Cidade do Rock, uma onda mais leve passa sobre a multidão. Lulu Santos, veterano do Rock in Rio, relembra os bons tempos, como um sábio que volta ao passado e canta para um futuro incerto. “Como uma onda no mar…” Ah, Lulu! Se você soubesse quantas dessas ondas já quebraram em rochedos invisíveis, levadas por ventos políticos, econômicos e sociais que destroem o que há de belo. Mas, mesmo assim, o público canta. Porque cantar, em tempos sombrios, é uma forma de resistir, de dizer que, apesar de tudo, ainda estamos aqui.
Por falar em resistência, a Venezuela, sempre em ebulição, deu as caras com mais uma detenção cinematográfica. Americanos e espanhóis, acusados de conspirar contra o governo de Maduro, foram presos. Parece até uma novela. E nessa trama, armas são apreendidas, golpes são frustrados, e o drama geopolítico continua como uma ópera interminável. Enquanto isso, Putin, do outro lado do mundo, já afia as garras nucleares, pronto para fazer sua retaliação. O mundo caminha numa corda bamba, e qualquer movimento pode ser o último.
Entre cobras que caem, jovens que sonham, um ar que sufoca e líderes que ameaçam, resta-nos refletir: para onde estamos indo? Talvez seja hora de desacelerar, de prestar mais atenção no caminho que estamos trilhando, antes que ele se transforme num beco sem saída. Quem sabe, em vez de caírem das alturas, as cobras — e todos nós — possamos aprender a rastejar com sabedoria pelo chão, buscando uma convivência mais harmoniosa com o mundo e com nós mesmos.
E assim termina o sábado, cheio de sustos, riscos, e esperanças, porque afinal, é isso que nos resta: a esperança de que, como uma onda no mar, tudo possa, um dia, se transformar.