CULTURA - MÚSICA

A máfia que produz o sucesso da música sertaneja

A máfia que produz o sucesso da música sertaneja
Publicado em 05/07/2024 às 11:55

A máfia que produz o sucesso da música sertaneja

Vivemos tempos em que o agronegócio, além de dominar as vastas terras do interior, decidiu também fincar sua bandeira nas ondas do rádio. É um fenômeno intrigante, quase surreal, mas tão palpável quanto o boi que pasta nos pastos. Os grandes fazendeiros, aqueles senhores das vastas plantações e rebanhos incontáveis, agora são também os padrinhos dos cantores sertanejos. Eles despejam rios de dinheiro, como se fertilizando as ondas sonoras, para garantir que as músicas de seus protegidos toquem incansavelmente nas rádios.

E não se enganem, meus caros leitores, muitas dessas canções são de uma qualidade que, para ser generoso, chamaremos de duvidosa. As letras simplórias, os arranjos repetitivos e as melodias previsíveis se entranham nas rádios como ervas daninhas, sufocando qualquer vestígio de diversidade musical. É um triste retrato de um cenário onde o gosto popular é moldado a ferro e fogo, ou melhor, a dinheiro e influência.

Os empresários do agronegócio, não contentes em apenas financiar, muitas vezes vão além: compram as próprias rádios. Sim, caros leitores, eles adquirem as emissoras, transformando-as em máquinas de repetição incessante de um único gênero musical. É uma espécie de monopolização cultural, onde outros ritmos e estilos são silenciados, impedidos de florescer nas paradas de sucesso.

O resultado é um ambiente sonoro monótono e empobrecido, onde a criatividade e a inovação são as grandes vítimas. Enquanto isso, o público, como gado tangido, é conduzido por uma trilha sonora imposta, sem direito a escolhas ou variações.

É um absurdo de proporções épicas, uma máfia disfarçada de interesse cultural, onde a música se torna apenas mais um produto do mercado, vendido ao melhor patrocinador. E assim seguimos, embalados por acordes repetitivos, em uma terra onde o dinheiro fala mais alto que o talento, e o sertanejo, na sua forma mais comercial, reina absoluto.

Por Antonio Glauber Santana Ferreira