MÚSICA - CRÍTICA MUSICAL

A Decadência do Funk Carioca: Um Retrocesso Musical

O FUNK ATUALMENTE APELA PARA PORNOGRAFIA E VULGARIDADE

A Decadência do Funk Carioca: Um Retrocesso Musical
Publicado em 06/07/2024 às 13:14

O funk carioca, outrora um gênero musical que, apesar de suas controvérsias, carregava consigo uma identidade cultural e uma expressão autêntica das periferias, hoje parece ter se tornado uma caricatura de si mesmo. Em seus primórdios, artistas como Claudinho e Buchecha conseguiam equilibrar ritmos envolventes com letras que, mesmo simples, traziam uma carga emocional e social significativa. Canções como “Enquanto Eu Viver” exemplificavam um funk que podia ser alegre e reflexivo, sem apelar para a vulgaridade.

Entretanto, o que se vê atualmente é um declínio acentuado na qualidade tanto melódica quanto lírica. A melodia repetitiva e irritante se tornou uma marca registrada do funk contemporâneo, que parece ter perdido a capacidade de inovar e cativar de forma positiva. Pior ainda são as letras, que frequentemente são superficiais, repetitivas e, em muitos casos, explicitamente ofensivas. A misoginia presente em grande parte das músicas não só perpetua estereótipos prejudiciais como também desrespeita e desvaloriza as mulheres.

É intrigante observar como um gênero que possuía tanto potencial para continuar evoluindo e representando a voz das periferias se transformou em algo que muitos consideram “lixo musical”. A massificação e a mercantilização do funk parecem ter roubado sua alma, deixando um vácuo onde antes havia autenticidade e criatividade.

Mas por que, então, tantas pessoas continuam a ouvir e dançar ao som desse funk atual? Talvez a resposta esteja na própria dinâmica do mercado musical, onde o que vende é o que prevalece, independentemente da qualidade. Ou talvez seja uma questão de identificação cultural, onde as batidas e ritmos ainda encontram eco nas experiências cotidianas dos ouvintes, mesmo que as letras deixem a desejar.

A crítica não é, de forma alguma, um ataque à cultura das favelas ou à capacidade de expressão das periferias. Pelo contrário, é um lamento pelo desperdício de um espaço que poderia ser utilizado para algo muito mais enriquecedor. O funk carioca ainda tem a capacidade de se reinventar e retornar às suas raízes, resgatando a dignidade e a profundidade que um dia já teve. Até lá, resta-nos esperar por uma nova geração de artistas que compreendam o verdadeiro poder da música como veículo de transformação social e cultural.

Por Antonio Glauber Santana Ferreira