POLÍTICA
Protestos em Paris após resultado parlamentares no 1º turno das eleições.
O sol despontava sobre Paris, mas as luzes da cidade estavam longe de iluminar a alma de seus habitantes. Nas avenidas que outrora ecoavam sons de riso e música, agora reverberavam gritos e slogans. Paris, a dama de ferro e poesia, encontrava-se no olho de um furacão político.
Os resultados das urnas eram como tempestades de outono, inesperadas e avassaladoras. A extrema-direita, como um vento cortante, avançava com 34% dos votos, abalando as fundações do Palais Bourbon. Os protestos que se seguiram foram as gotas de chuva que, incessantes, alagam até as mais resilientes construções.
Marine Le Pen e seu Reunião Nacional surgiam como trovões em um céu carregado, levando consigo o temor de tempos sombrios. A esquerda, com seus 28,1%, era o relâmpago que cortava a escuridão, tentando iluminar o caminho com promessas de mudança e resistência. Emmanuel Macron e sua coalizão de centro, com 20%, pareciam um arco-íris distante, belo mas fora de alcance, tentando juntar as cores de um país fragmentado.
A França, com seu sistema semipresidencialista, estava à beira de um precipício de coabitação, onde o presidente e o primeiro-ministro poderiam ser como água e óleo, incapazes de se misturar. O governo de Macron, já instável, enfrentava a ameaça de paralisia, um carro sem combustível na corrida política.
Os parisienses, sentinelas da liberdade e igualdade, marchavam pelas ruas como um rio que transbordava suas margens, inundando a cidade com sua indignação. Os gritos eram as marés que subiam, exigindo justiça, igualdade e um futuro melhor. Paris, a musa de artistas e poetas, era agora palco de um drama shakespeariano, onde cada ato era mais intenso e imprevisível que o anterior.
E assim, sob o céu cinzento de um domingo turbulento, a cidade luz enfrentava suas sombras, buscando nas ruas e nas urnas a luz que pudesse guiá-la através da tempestade.
Por Antonio Glauber Santana Ferreira