Política
Partidos de centro devem manter o controle do Parlamento Europeu.
Há algo de irônico no ato de contar votos. Vê-se a democracia sendo dissecada em números, como se a complexidade das vontades humanas pudesse ser reduzida a uma simples contagem. Neste ritual cívico, os partidos do centro devem manter controle do Parlamento Europeu, mesmo com o avanço da ultradireita, apontam as projeções. Eis o paradoxo da estabilidade: a mudança, quando chega, o faz aos poucos, sorrateira, quase imperceptível.O edifício da União Europeia em Bruxelas brilha sob as luzes da projeção inicial. Conservadores, liberais e social-democratas, juntos, continuarão a dominar o cenário político. Uma aliança de 389 cadeiras que promete manter a ordem das coisas, mesmo que essa ordem seja uma tênue linha entre progresso e estagnação.Nos bastidores, a ultradireita resmunga. Eles, que por tanto tempo foram relegados às sombras da política europeia, agora ganham espaço. O avanço deles é como uma maré alta, lenta, mas inevitável, engolindo pouco a pouco as areias de um litoral antes pacífico. O preço do pão, o descontentamento dos agricultores, as chamas da guerra em Gaza e Ucrânia; tudo isso são combustível para suas chamas retóricas.Mas, mesmo com esse avanço, o Parlamento parece inclinado a resistir à mudança drástica. Os Verdes, defensores fervorosos do meio ambiente, perdem força. O sonho de um mundo mais verde parece desbotar, enquanto a realidade política se pinta com tons mais conservadores. A segurança, a migração, o clima – tópicos que, sob a lente da ultradireita, se tornam campos de batalha.E assim, como em uma peça de teatro tragicômica, os personagens se revezam no palco europeu. O Partido Popular Europeu, com seus 181 assentos, ainda é a estrela principal, seguido pelos social-democratas e os liberais. Juntos, eles formam o grande bloco, uma muralha contra as marés de mudança.A democracia europeia se revela em sua plenitude contraditória: um jogo de forças em constante equilíbrio, onde o progresso é tanto uma promessa quanto uma ameaça. E nós, espectadores, assistimos de nossas poltronas, talvez com um leve sorriso cínico, enquanto a história se desenrola.
Escrito por Antonio Glauber Santana Ferreira