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Morre aos 94 anos a economista Maria da Conceição Tavares
Em um canto sereno da serra fluminense, em Nova Friburgo, a vida deu seu último adeus a uma gigante. Maria da Conceição Tavares, aos 94 anos, encerrou sua jornada terrena, deixando um legado que transcende fronteiras e épocas. Nascida em Anadia, Portugal, em 1930, fugiu do regime opressor de António de Oliveira Salazar e encontrou no Brasil um novo lar, onde plantou suas ideias e colheu respeito e admiração.Maria da Conceição chegou ao Brasil em 1954, como uma tempestade que se anuncia ao longe, carregada de potencial para transformar. Naturalizou-se brasileira em 1957, mesmo ano em que ingressou no curso de economia da Universidade do Brasil, atual UFRJ. Desde então, tornou-se uma voz imponente contra as injustiças econômicas e sociais, desafiando regimes e políticas com a precisão e a paixão de quem sabe que a verdadeira mudança exige coragem.Seu percurso acadêmico e profissional é um mapa de conquistas e desafios. No BNDES, na Cepal, no Ministério do Planejamento e em tantas outras trincheiras, Maria da Conceição não apenas trabalhou – ela iluminou caminhos. Foi eleita deputada federal pelo PT nos anos 90, e sua obra literária, como “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil”, de 1972, é um testamento de sua capacidade analítica e de sua dedicação à compreensão das complexidades econômicas do país.Quem a via em debates televisivos, como no emblemático “Roda Viva” de 1995, sentia a força de suas palavras. Uma frase dita naquela ocasião ressoa até hoje: “Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata.” Com essa clareza, ela desnudava verdades que muitos preferiam ignorar.Aos 94 anos, Maria da Conceição parte deixando filhos, netos, um bisneto e uma multidão de admiradores que, direta ou indiretamente, foram tocados por sua sabedoria e seu compromisso inabalável com a justiça social. Sua vida é uma lição de que a luta por um mundo mais justo e equitativo é incessante, e que o conhecimento, quando aliado à ética, pode mudar destinos.Maria da Conceição Tavares viveu intensamente, como uma chama que arde sem se apagar, inspirando gerações e deixando um vazio que só pode ser preenchido pelo seguimento de seu legado. Em Nova Friburgo, o silêncio desta despedida é também um convite à reflexão: que futuros estamos construindo, e com que instrumentos? Que sua memória nos guie na construção de respostas dignas.
Por Antonio Glauber Santana Ferreira