CRÔNICA
Cid Moreira morre aos 97 anos
Jornalista, locutor e apresentador estava internado em um hospital em Petrópolis, na Região Serrana do RJ, e nas últimas semanas vinha tratando de uma pneumonia.
É como se o silêncio, que sempre esperava pacientemente no fim de cada frase, tivesse finalmente encontrado o seu lugar definitivo. Cid Moreira, o dono da voz que carregava o peso das notícias e a leveza da esperança, encerrou sua última edição. Se as palavras tivessem vida própria, estariam de luto, porque perderam aquele que as moldava com gravidade e suavidade, como se cada som fosse uma pincelada de arte.
Cid não era apenas um locutor. Ele era a trilha sonora de uma nação, um trovador moderno que, noite após noite, entrava em nossas casas, como quem puxava uma cadeira à mesa para nos contar o que acontecia lá fora. A sua entonação era mais do que um instrumento de trabalho, era a bússola que nos guiava pelos mares revoltos da informação. Ele não lia as notícias, ele as narrava como quem vivia cada palavra, transmitindo a sensação de que, em algum canto do universo, tudo fazia sentido quando dito por ele.
Hoje, sua voz se cala no plano físico, mas reverbera na memória coletiva. É curioso como uma voz pode transcender o tempo, o espaço e até a própria vida. Cid fez com que cada boletim de crise ou cada anúncio de vitória nacional se tornasse uma parte de nós. E agora, políticos e autoridades ecoam seus feitos, talvez na tentativa de marcar presença ao lado de uma figura que já era imortal.
Há uma ironia amarga em sua partida. Vivemos em uma era de vozes múltiplas, barulhentas, onde a clareza se perde no meio de ruídos de tantas fontes. E a voz de Cid, que sempre soou como a verdade encarnada, despede-se num mundo onde a verdade parece mais difusa do que nunca. Agora, caberá a cada um de nós aprender a escutar mais atentamente, porque o mestre da locução partiu, mas deixou a lição de que, no fundo, o que dizemos importa. E como dizemos, talvez, ainda mais.
Descanse, Cid. Que seu nome ressoe nas eternas ondas de rádio e TV do cosmos, onde a verdade nunca precisa de intervalos comerciais.
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE