CRÔNICA

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 19 de setembro de 2024

Um quebra-cabeça de notícias

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 19 de setembro de 2024
Publicado em 20/09/2024 às 2:34

As notícias do dia 19 de setembro de 2024

_______________________________________________________________________________________________________________

Por Antônio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


Em um cenário digno de um épico, o mundo, no dia 19 de setembro de 2024, se apresentou como uma orquestra desafinada, onde cada nação parecia tocar sua própria melodia caótica. Se a vida fosse uma ópera, estaríamos naquelas cenas em que o tenor desafina e a soprano desmaia dramaticamente. O dia começou com uma seresta triste vinda do semiárido sergipano, onde Poço Verde, outrora um oásis de esperança, agora agoniza em meio à seca, como um velho cantador que perdeu a voz. O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, em sua sabedoria, declarou a emergência. Mas, em um país de tantas emergências, quem ouve o canto rouco da terra que clama por chuva?

Enquanto isso, o Fórum Norte-Nordeste da Indústria da Construção escolheu Sergipe como palco para discutir tijolos e concreto, enquanto os sertanejos precisam mais de um balde d’água do que de cimento. Talvez construam castelos de areia para os sonhos que desmoronam com o vento seco. Será que a indústria da construção conseguirá erguer muros que impeçam a seca de avançar? Ou apenas estará cimentando as lágrimas daqueles que veem o solo rachar sob os pés?

Mas a ironia do destino não para por aí. A Polícia Federal decidiu fazer uma faxina no tabuleiro eleitoral, prendendo 19 candidatos com mandados de prisão em aberto. É como se o Brasil fosse uma enorme panela de pressão, e os corruptos fossem grãos de feijão velhos e duros, que se recusam a cozinhar. De norte a sul, em todos os partidos, as prisões fazem ecoar um aviso: não importa o rótulo do feijão, a panela do Brasil está saturada. Quem diria que a política é tão semelhante à culinária? Quanto mais se mexe, mais aparecem os grumos indigestos.

E enquanto o Brasil fervilha em escândalos e estiagens, o governo nos sugere um truque de prestidigitação: “Ajuste seu relógio!”, diz o comitê do horário de verão. Como se pudéssemos, com um giro nos ponteiros, afastar a sombra do consumo excessivo e trazer de volta o sol que ilumina as consciências. Será que adiantar o relógio também vai adiantar a solução dos nossos problemas? Lula ainda vai decidir. Talvez precise consultar os astros para ver se é um bom momento para mexer no tempo ou se isso só vai desalinhar ainda mais os humores da nação.

O Supremo Tribunal Federal, que deveria ser o guardião da justiça, volta a julgar a “revisão da vida toda” do INSS. Quem diria que a vida poderia ser revista assim, como um álbum de fotografias onde você pode escolher as melhores poses e esquecer os momentos embaraçosos? Mas não é assim que funciona. A cada voto contra, mais um sonho de aposentadoria digna se despedaça, como se alguém rasgasse as páginas de um diário escrito com suor e lágrimas.

Enquanto isso, na fria Europa, 400 mil crianças viveram sem teto em 2023. Se a infância é o terreno fértil onde semeamos o futuro, o continente está cultivando desesperança. Mais de um milhão de pessoas dormem nas ruas, enquanto discutimos a cor da parede de nossa indiferença. Essas são as novas favelas globais, onde os sonhos de um mundo melhor se esvaem, sem um teto que os proteja.

No Líbano, a política internacional parece um romance policial. Explosivos em pagers e walkie-talkies, vendidos pelo serviço secreto israelense ao Hezbollah. É a globalização da paranoia, onde cada mensagem pode ser uma bomba e cada palavra, uma faísca que acende o pavio do medo. É como se vivêssemos em um thriller geopolítico, onde o enredo é complexo demais para acompanhar, e os protagonistas são sempre suspeitos.

E, para completar a tragédia, chuvas fortes causam enchentes na Itália, varrendo tudo em seu caminho. Em Bagnacavallo, duas pessoas desaparecem quando o telhado, sua única proteção, desaba como a esperança que se dissolve em meio ao caos. É a natureza mostrando que, enquanto discutimos a crise climática em reuniões cheias de protocolo, ela continua a sua ópera furiosa, indiferente ao que decidimos ou não.

Nos Estados Unidos, a dança eleitoral ganha novos passos: Kamala empata com Trump, mas vence em estado decisivo. É o balé político americano, onde cada passo em falso pode decidir o destino de uma nação. Mas, como numa dança de máscaras, nunca sabemos quem está realmente por trás dos sorrisos ensaiados e dos gestos calculados.

E a Argentina, nossa vizinha, encolhe ainda mais. A recessão se aprofunda como um poço sem fundo, e a economia contrai-se como um músculo paralisado pela dor. Nosso tango econômico agora parece mais uma marcha fúnebre.

No fim, o mundo de hoje é um teatro de sombras, onde cada notícia é uma peça de um quebra-cabeça que nunca se completa. Mas, talvez, em meio a tantas metáforas e ironias, encontremos algum alento. Quem sabe, se a vida é uma peça, ainda nos resta o ato final, onde, como diria Shakespeare, o tempo revela todas as verdades. E, enquanto a cortina não cai, seguimos atuando, rindo e chorando, esperando que, um dia, possamos reescrever este roteiro tragicômico que chamamos de realidade.