CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 10 de setembro de 2024
"Pare-Siga da Vida: Entre Sal, Secas e Botões do Pânico - Crônica das Notícias de 10 de Setembro de 2024"
As notícias do dia 10 de setembro de 2024
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Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE
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E assim o sol nasceu em mais um dia no sertão de Sergipe, onde o rio São Francisco agora parece menos vigoroso, como um velho guerreiro que, cansado de tantas lutas, vê suas forças serem medidas e racionadas. A Chesf, em seu trono de números e gráficos, decide quanto da vida líquida o gigante Xingó ainda pode oferecer ao povo. É como se o rio estivesse em um “pare-siga”, tal qual a BR-235, onde uma carreta repleta de sal derramou seus cristais pelo asfalto. Parece ironia: o sal da terra estendido ao longo da estrada, e o mar, outrora cheio, reduzido à medida de quem vê água como estatística.
No meio do sal e da seca, a loteria brilha como uma miragem no deserto. “R$ 10 milhões!”, gritam os profetas da sorte, chamando os peregrinos da esperança, que na fila das casas lotéricas depositam seus sonhos em bilhetes que pesam tanto quanto as promessas de salvação que eles não viram. Mas quem não joga, não ganha, diz o ditado. Talvez seja o contrário: quem joga, perde sempre um pouco da ilusão.
E por falar em perdas, que tal o tal “botão do pânico”? Parece até nome de reality show, mas é a nossa triste realidade educacional. Enquanto em Luxemburgo um aluno custa como um carro de luxo, no Brasil, o ensino público vale menos que uma geladeira usada. Agora, ao invés de ensinar com tranquilidade, teremos um “botão” para acionar o pânico. Sinal dos tempos, em que o medo vale mais do que o saber. O botão é a nova sirene de uma educação que anda no fio da navalha, num cenário onde o conhecimento, assim como a vazão do Xingó, parece cada vez mais racionado.
Em Brasília, o horário de verão volta a ser assunto de pauta. Engraçado como até o tempo parece flexível quando a energia aperta. O que não é flexível, no entanto, são as contas: R$ 15 mil para Bolsonaro e Michelle pelos móveis do Palácio da Alvorada que, num enredo digno de filme de detetive, desapareceram e reapareceram. No fim, a conta sempre chega. Se para alguns ela vem em boletos, para outros vem em indenizações.
Enquanto isso, lá no alto, quase que em outra realidade, a missão Polaris Dawn nos lembra que os humanos podem ir longe, literalmente. A nave da SpaceX alcançou a órbita mais alta desde a Lua, mostrando que, apesar dos nossos tropeços terrestres, ainda sabemos sonhar com as estrelas. Aqui embaixo, no entanto, os nossos sonhos parecem mais pesados, arrastados pela gravidade das contas, das crises e das brigas que insistimos em manter. Trump e Kamala Harris, lá nos EUA, jogam suas palavras afiadas em debates como flechas, enquanto aqui continuamos a discutir móveis, botões e a falta d’água.
Talvez, no fim, sejamos todos um pouco como aquela carreta tombada na BR-235, carregados de pesos que não conseguimos mais carregar, esperando por um guincho que nos coloque de volta nos trilhos. Enquanto isso não acontece, seguimos, em pare-siga, pela estrada da vida.