ARTIGO
Linguagem Neutra: A Confusão que Não Convence
Em tempos em que o simples ato de falar se transforma em um campo minado de novas regras e polêmicas, a chamada “linguagem neutra” surge como uma tentativa de evitar gêneros em palavras que, por si só, nunca causaram mal a ninguém. Como se a língua portuguesa, que há séculos se molda e adapta, precisasse agora ser retorcida para agradar a todos, mesmo que isso signifique o sacrifício da clareza e da comunicação eficiente.
A proposta de substituir “ele” ou “ela” por “elu” ou “ile”, ou ainda transformar “amigo” e “amiga” em “amigue”, levanta uma questão: até que ponto vale a pena sacrificar a fluidez da comunicação por uma tentativa forçada de inclusão? Afinal, a língua é feita para conectar, para fazer entender, e não para confundir. O uso de um vocabulário que poucos compreendem ou se identificam pode acabar criando um abismo ainda maior, dividindo em vez de unir.
Além disso, a imposição da linguagem neutra carrega um risco perigoso: o de desrespeitar as raízes da língua, que é uma construção coletiva e histórica. Modificar a forma de se expressar pode parecer, à primeira vista, uma vitória para alguns, mas é também uma afronta à riqueza cultural e à lógica que permeiam a estrutura do idioma. A língua portuguesa, como qualquer outra, possui um sistema de gêneros gramaticais que não foi arbitrariamente imposto, mas sim desenvolvido ao longo de séculos de uso.
Sem contar que, em muitos casos, a linguagem neutra pode resultar em expressões que soam artificiais ou mesmo ridículas, tornando a comunicação algo robotizado, sem a naturalidade que tanto caracteriza o ato de conversar. E, no fim, é a comunicação que sai prejudicada. O que deveria ser uma ferramenta para aproximar pessoas se transforma em uma barreira que, ao invés de resolver problemas, os cria.
É preciso ter em mente que a inclusão verdadeira vai muito além de uma mudança superficial na maneira de falar. Ela está na atitude, no respeito cotidiano às diferentes identidades e realidades. Forçar uma alteração linguística que não reflete a prática social pode acabar sendo mais excludente do que inclusiva, transformando uma questão séria em uma mera formalidade sem substância.
Por isso, a linguagem neutra, ao menos como tem sido proposta, parece mais um modismo passageiro do que uma solução concreta para os desafios da sociedade contemporânea. Em vez de reinventar a língua a cada nova demanda social, talvez seja mais prudente investir em educação, conscientização e respeito mútuo, que são os verdadeiros pilares de uma convivência harmoniosa.
Essa crítica tenta levantar preocupações sobre a clareza, a coerência e a viabilidade da linguagem neutra, propondo que mudanças profundas na língua devem ser bem pensadas e amplamente aceitas, e que o respeito e a inclusão vão além de adaptações linguísticas.
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE