CONTO
Trilha
Nas profundezas da floresta, onde o verde se confunde com o céu e o chão, existia uma trilha que poucos ousavam trilhar. Diziam os anciãos da vila que aquela trilha não era feita de terra, mas de memórias antigas e segredos guardados. Ela não conduzia apenas a um destino físico, mas a uma jornada interna, onde cada passo reverberava no espírito do viajante.
Os mais corajosos que se aventuravam por ali juravam que a trilha mudava a cada visita. Um dia, podia ser um caminho sereno, ladeado por flores que sussurravam histórias antigas ao vento. No outro, se tornava um labirinto de sombras, onde o viajante se via frente a frente com seus medos mais profundos.
No coração dessa trilha, havia uma clareira, onde o tempo parecia parar. A luz do sol penetrava a copa das árvores, criando um jogo de sombras e luzes que dançava ao ritmo do vento. Ali, em um círculo de pedras antigas, havia um espelho. Não um espelho qualquer, mas um que mostrava não o reflexo físico, mas a essência do viajante. Aqueles que se olhavam profundamente eram confrontados com a verdade de sua alma.
Diziam que aquele que completasse a trilha e encarasse o espelho com coragem seria transformado. Alguns voltavam com um brilho novo no olhar, como se tivessem encontrado uma peça perdida de si mesmos. Outros nunca retornavam, como se tivessem se fundido ao próprio caminho, tornando-se parte da trilha, guardiões silenciosos dos segredos que ali repousavam.
Com o passar do tempo, a trilha se tornou mais do que um caminho na floresta; virou uma metáfora para a jornada da vida. Um lembrete de que os maiores desafios não são os montes que subimos ou os vales que atravessamos, mas os passos que damos em direção a nós mesmos.
E assim, a trilha continuou a existir, muda e eterna, esperando pelo próximo viajante que tivesse a coragem de encarar seus próprios segredos e descobrir o que realmente reside ao final do caminho.
Autor : Antonio Glauber Santana Ferreira