CRÔNICA
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 13 de agosto de 2024
"Curtinas da Realidade : O Espetáculo do Cotidiano em Sergipe , no Brasil e no mundo"
No palco dos absurdos diários, o dia 13 de agosto de 2024 se apresentou como um espetáculo onde o improvável divide o palco com o esperado, e a plateia, claro, somos todos nós, que assistimos a essa peça tragicômica com um misto de resignação e perplexidade.
A grande notícia do dia é o tão aguardado concurso público para o Sistema Único de Assistência Social de Sergipe. Ah, o concurso! O velho truque do governo, uma cortina de fumaça que, de vez em quando, levantam para encobrir os outros problemas. Serão 90 vagas disputadas por uma legião de concurseiros que já se preparam como se fosse a última chance de escapar do naufrágio chamado desemprego. É quase uma loteria, onde a chance de ganhar é pequena, mas a esperança é grande. Assim, enquanto todos correm atrás de uma dessas vagas, o governo exibe seu “compromisso” com a população. Um show de ilusionismo digno de Las Vegas, mas com ares de sertão.
Enquanto isso, no sertão sergipano, a etnia Fulkaxó celebra a criação da primeira reserva indígena de Sergipe. Um feito histórico, sem dúvida, mas que nos faz pensar: 45 hectares hoje, com promessa de 760 amanhã. Será que o amanhã não vai demorar mais 500 anos? O discurso é bonito, mas a realidade é que essa terra, prometida há séculos, finalmente foi entregue a conta-gotas. A ironia é quase palpável: enquanto a civilização avança em suas conquistas, os Fulkaxó só agora conseguem um pedaço de chão. Mas celebremos, pois, em tempos de tantas promessas vazias, ao menos essa saiu do papel… mesmo que com séculos de atraso.
Em outra cena desse espetáculo bizarro, temos um tambaqui com um tumor na Lagoa dos Tambaquis, em Estância. Se fosse um roteiro de ficção, diríamos que o peixe é uma metáfora perfeita para o estado de nossa ecologia: doente, maltratada e ignorada até que a situação se torne inegável. A Secretaria de Meio Ambiente corre para tratar o pobre peixe, mas será que alguém vai tratar o ambiente que permitiu tal aberração? Na novela da vida real, o tambaqui virou o protagonista de um drama ecológico que deveria nos envergonhar, mas que, como tantos outros, será esquecido assim que a próxima notícia escandalosa surgir.
A capital, Aracaju, por sua vez, vive mais um capítulo da saga “Obras que Nunca Terminam”. O recapeamento asfáltico da Avenida Tancredo Neves volta a alterar o trânsito, como se o caos já não fosse suficiente. Uma trama repetitiva, como uma novela mexicana sem fim, onde os personagens — ou seja, nós, motoristas e pedestres — tentam sobreviver aos obstáculos diários que a cidade nos impõe. Quem diria que, no meio de tantos avanços tecnológicos, as obras de infraestrutura ainda são conduzidas como na Idade Média, afetando a todos por meses a fio?
Enquanto isso, no cenário nacional, os deputados e senadores debatem como driblar o STF em relação às emendas parlamentares. É quase cômico, se não fosse trágico. O Congresso, com sua habilidade de transformar qualquer situação em uma oportunidade para manobras, quer dar uma aula prática de “como enganar as leis sem sujar as mãos”. Transparência, dizem eles. Talvez a mesma transparência que existe entre as cortinas escuras de um palco, onde os atos mais sombrios são sempre escondidos da plateia.
Mas nem tudo é treva. No céu, Marte e Júpiter se uniram numa dança cósmica que só se repetirá em 2033. Um espetáculo gratuito e imune às nossas mazelas terrestres. Se por um lado a humanidade se afunda em seus próprios conflitos, ao menos as estrelas nos lembram que, no grande esquema do universo, somos apenas espectadores de um show muito maior.
No fim do dia, o que realmente importa? Talvez seja a nossa capacidade de rir das nossas próprias aventuras, de ver o humor na ironia do cotidiano. Porque, no fundo, a vida é mesmo essa crônica maluca onde o inesperado é a única certeza, e nós, atores e espectadores, seguimos interpretando nossos papéis da melhor forma possível. Afinal, como diria um sábio qualquer, “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”.
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE